A VIDA UM ANO DEPOIS: Larguei meu emprego e mudei de país

A VIDA UM ANO DEPOIS: Larguei meu emprego e mudei de país

Há pouco mais de um ano, dei o último passo na minha antiga vida para ser possível dar o primeiro, em direção a “outra” vida que eu queria (ou, pelo menos, pensava que queria) seguir.

Eu trabalhava como designer de estampas/produtos numa marca de acessórios brasileira. Diferente da maioria que larga o emprego porque a vida se transformou em algo que nunca quis, eu gostava do que tinha almejado e conseguido.

Eu morava sozinha num apartamento de dois quartos que tinha o espaço perfeito para mim. Eu pintei paredes de cinza e preto sem precisar da aprovação de ninguém. Eu costumava cozinhar cantando nas alturas e andava pelada de um cômodo a outro. E a delícia de ter todas as contas pagas sem precisar da ajuda dos pais ou de um parceiro era a maior delas.

Além disso, adorava ser parte de um grupo sólido no trabalho, onde eu sabia direitinho como as coisas funcionavam do início ao fim, já que fiquei lá por mais de 6 anos e a galera já havia virado família. O meu emprego ainda me permitia fazer uma grande viagem ao ano e como isso me deixava feliz!

Should I stay or Should I Go
O desenho que fiz na minha parede durante a Copa do Mundo de 2014 já parecia prever a minha decisão com relação ao futuro.

Eu era feliz mas, de alguma forma e sem me dar conta, comecei a sentir que aquilo não era mais suficiente. O Rio de Janeiro também começou a tornar minha vida mais difícil e a insatisfação se instalou. Calor excessivo, violência, insegurança e as quase 4 horas que perdia todos os dias indo e voltando do trabalho foram se acumulando. Eu só vivia de verdade aos finais de semana e, mesmo assim, a ida à praia também era uma via crucis.

Por onde eu passava, via gente grosseira, impaciente, reclamando e eu havia me tornado uma delas. A minha vontade era de passar por uma rehab para pessoas estressadas (isso existe?), experienciar outros jeitos de viver (sempre soube que o meu não era o único) e como sempre quis viver fora do país (nem que fosse por um tempo), bati o martelo e disse: “Vou sair do Brasil.”.

Como nos últimos anos, muita gente tem lotado a internet com suas vidas maravilhosas de Instagram e posts inspiracionais, não vou repetir o discurso comum e concordar que o “Largue tudo e seja feliz!” seja o real caminho da felicidade. Muito porque, cada vez mais, acredito e tento focar na máxima de que a felicidade não é o destino – algo palpável a ser alcançado – e sim o próprio caminho que a gente percorre todos os dias. Acho que o meu discurso estaria mais para “Largue tudo para aumentar seu leque de opções” ou ainda “Não largue nada, mas tente enxergar outros caminhos que possam trazer de volta a felicidade sem que você precise mudar de endereço.”.

Eu tinha um respaldo porque a minha mãe já morava em Portugal há muitos anos e ela poderia aguentar as pontas, caso fosse necessário. Sei que muita gente não tem esse apoio e fica ainda mais difícil tomar essa decisão de mudança. Mas, por outro lado, todos os dias ouço histórias de gente que não tem nadinha mesmo e parte para uma nova vida, somente com a cara, a coragem e uma pequena reserva no bolso.

Terreiro do Paço - Lisboa

Eu mesma, quando saí do emprego, tinha duas opções: tentar a vida em Nova York (o que eu sempre quis) ou em Portugal (o mais fácil para mim). Escolhi o mais fácil, não nego, mas eu poderia ter ido para Nova York e dado errado? Sim. Poderia ter dado certo? Sim também.

Cada caso de mudança de país é um caso e, além da força de vontade, a sorte também precisa estar envolvida.

Eu sempre tirava meus 30 dias de férias enquanto estava empregada, mas eu precisava de mais, de uma desintoxicação de dias finitos de alegria e horários a cumprir. Já que desde muito cedo, eu aprendi a ser certinha e a nunca tomar decisões irresponsáveis, achei que merecia um tempo para não pensar em nada e, assim que cheguei aqui, decidi por um ano sabático.

Bem, não foi bem assim porque um mês depois que cheguei, peguei um freela de uma empresa no Brasil e passei uns bons cinco meses envolvida com o projeto. E foi ótimo! Pela primeira vez, estava sendo apresentada a um novo jeito de trabalhar: o freelancer style. Eu já havia feito uns freelas antes, mas sempre em paralelo à empresa oficial (e ainda perdendo 4 horas no trânsito). :’(

O resto do ano eu dediquei meu tempo e dinheiro à atividade que mais gosto: viajar. Fiz umas pequenas viagens por perto e superei meu medo e limites partindo sozinha para um mochilão pelo Sudeste Asiático. O principal motivo? Fazer voluntariado com animais abandonados na Tailândia. Quando voltei, ainda emendei uma viagem de Ano Novo com amigos e só fui me dar conta esse ano que…eu estava quebrada! :O

Eu trouxe poucos euros e a moeda subiu horrores nos meses seguintes à minha chegada. E eu ainda perdia muito fazendo transferências e retiradas na função crédito, já que todo o meu dinheiro ainda estava em contas no Brasil. Ou seja, todo o planejamento (que já era furado) que eu fiz foi por água abaixo.

Toc, toc!
Quem é?
É a realidade! Teria uns minutinhos para ouvir a palavra?
Vai embora!

Pois é, amigos, uma hora a realidade tinha que voltar e me pegar na curva com força.

Só no início desse ano é que a ficha caiu e eu me vi forçada a criar essa “outra vida” que eu tanto desejava e foi o motivo da minha mudança.

Quando eu, sentada no escritório, me pegava perdida nos pensamentos de “Ah se eu tivesse tempo! Ah, se eu tivesse liberdade!”, acreditava que tudo seria possível. Até porque, analisando minha vida, eu fui capaz de conseguir muitas coisas que queria, então, como é que agora que eu tenho o tal tempo e a tal liberdade, eu não seria capaz de novo?

Portanto, sei que preciso honrar a Thaís do passado fazendo tudo o que ela queria e, mais ainda, honrar a oportunidade que tenho nas mãos agora.

Decidi ter o meu próprio negócio e desde o início desse ano, venho estudando maneiras de viabilizar o projeto e, diariamente, aprendo que nada vem rápido. E, como a maioria da nossa geração, eu quero resultados rápidos! Só que trabalhando sozinha, tudo depende somente do seu esforço e tempo dedicados. Eu decidi trabalhar com o que gosto e assumo que estou tendo problemas em acertar o caminho.

É claro que muitas vezes me pego pensando “O que foi que eu fiz?” e desejando minha antiga vida de volta. Afinal, não tem mais salário caindo na conta todo mês, não tem plano de saúde incluído, não tem almoços com a galera e choppinho às sextas e nem troca de ideias e risadas –  esses últimos os que mais me fazem falta.

Ipanema
Não tem mais esse visual. :'(

Em compensação, tem flexibilidade de horário e não ter que se reportar a um chefe (não é rebeldia, mas é muito gostoso ter a autonomia de levar todas as suas ideias adiante: as boas e até as péssimas! Haha). Também tem dedicação de meses a um projeto e se ele não der certo, você continuar no zero, mas, também tem todos os louros e dinheirinho colhidos só para você, caso dê muito certo. E, ainda tem o “Dane-se! Agora, vou trabalhar como garçonete.”, por que o quê eu tenho a perder?

Eu emagreci porque passei a ter tempo para comer melhor e a me exercitar. Eu fiquei ainda mais criativa do que era porque o meu trabalho agora (chamo também de “trabalho” até o que não me rende retorno financeiro) me permite não só fazer estampas como antigamente mas, posters, quadros, ilustrações e até roupinhas de cachorro! E, claro, também tenho escrito muito mais, coisa que adoro!

Então, colocando na balança, eu não me arrependo da minha decisão. O único arrependimento é não ter começado mais cedo nisso de empreender.

Eu não estou desejando morte às grandes empresas e à vida assalariada, até porque tem espaço para ambas as formas de trabalho e porque nem todo mundo se encaixa no perfil empreendedor. Eu mesma acho que não nasci com qualidades para isso mas estou determinada em aprender. Pode ser que daqui a um mês da publicação desse post eu tenha me cansado e desistido? Pode. Mas, agora-neste-exato-momento é o que eu quero fazer. E o que é a vida senão viver o presente? O agora é tudo o que temos.

Talvez você não precise largar tudo mas só assumir uma postura diferente no seu emprego que as coisas já mudam. Agitar as coisas, sabe? Eu poderia ter tentado isso, mas por já saber como tudo funcionava do início ao fim (e que as coisas não mudariam), precisei de uma decisão mais radical.

Uma coisa importante e libertadora que eu aprendi é que a definição de sucesso é muito relativa.

O que é ser bem sucedido para você?

É ter um bom emprego, casar, ter filhos, um carro, uma casa e conseguir tudo isso antes dos 30, 40 anos? Tá tudo bem se isso fizer sentido para você. O problema é que muitos tem a mesma resposta e perseguem esses objetivos no automático, sem ser realmente o que desejam lá no fundo.

A minha definição de sucesso é bem diferente da que citei acima e tá tudo bem também acreditar que posso fazer diferente. Talvez seja mais difícil porque é uma definição mais nova. Mas, é isso aí, sempre em frente!

Tenho esperança de que as próximas gerações sejam apresentadas ao empreendedorismo desde cedo e não somente à fórmula cursinho-faculdade-diploma-emprego. O mercado fica mais equilibrado (a concorrência para a entrada nas grandes empresas diminui), as marcas pequenas saem mais valorizadas e todo mundo sai feliz, trabalhando onde quer, consumindo o que gosta, o que acha verdadeiro e vê uma conexão.

No fundo, acredito na minha capacidade em aprender a empreender, mas, como já disse, estou engatinhando. Leio muito sobre o assunto e me inspiro nas pessoas que já estão lá na frente, sendo exemplos para mim.

Agora, me deem licença que eu já falei muito e preciso voltar para a minha realidade. 😛

Mas, peraí, essa palavra está soando estranha. Aliás, porque eu disse que a realidade só voltou esse ano? Realidade é coisa que vai e volta? Quer dizer que o meu ano sabático não foi real? Se eu vivi tudo aquilo então é porque foi real sim!

E essa história de vida antiga, outra vida, nova vida? Desculpa, gente, mas eu estava mesmo enganada: vida só existe uma e única, mas sempre com fases e ciclos diferentes.

15 comentários em “A VIDA UM ANO DEPOIS: Larguei meu emprego e mudei de país”

  1. Adoro ler esse tipo de experiência. Há pouco mais de 06 meses vendi tudo, larguei emprego para acompanhar meu namorado na Alemanha. Tem sido cada dia mais difícil, me perco lendo textos e tentando encontrar o sentido das coisas.

  2. Parabéns Thaís… suas escritas são maravilhosas. A gente viaja junto e aprende de forma humana e conforme o cotidiano nosso de cada dia. Sou seu fã. Johnni. Porto Alegre. Brasil.

  3. olá, estou aqui lendo seu blog e sentindo essa vontade de largar tudo e passar um tempo fora. tenho muitos planos mais nenhuma ação. Sou professora, concursada e tenho uma vida mega segura. mas o que eu quero é viver perto do mar e fazer artesanato, roupas, quadros, biju, renda, escultura… arte. talvez algum dia.

  4. Olá Thaís,

    Vi o seu trabalho na revista do jornal O Globo e lembrei que você estudou comigo no Santa Mônica!rs
    Fico feliz quando vejo alguém dos tempos da escola mandando bem!;)
    Em relação a mudança de país, acredito que todas as pessoas deveriam ter essa oportunidade, mesmo que fosse por pouco tempo, para expandir os horizontes.
    Beijão e que tudo dê certo aí em Portugal!

    1. Olá, querida!
      Fiquei muito feliz com a sua mensagem, muito obrigada! 🙂
      Pois é, acho que agora os jovens tem mais essa noção de que viver um tempo fora do país é muito benéfico. Acho que está muito mais fácil.
      A nossa geração não teve tantas facilidades nesse ponto e a gente tem que ralar mais pra conseguir, mas isso também é uma coisa boa. hehe

  5. Tem que ter mesmo muita coragem! Mas, como diz um velho ditado: quem não arrisca não petisca! E tenho certeza que você vai conseguir o seu objectivo!!!

  6. Minha geração não era audaciosa como a sua .
    Hoje gostaria de poder fazer isso..mudar
    Mas laços familiares fortes me prendem aqui.
    Mas espero ano que vem pelo menos passear em Terras Lusitanas

    1. Olá, Sueli!
      Tenho que concordar que as gerações de agora tem mais facilidade em alguns aspectos, principalmente, no que tem filhos mais tarde e isso acaba prolongando a liberdade. Espero que consiga passear logo por aqui. Obrigada pelo comentário! 🙂

  7. Thais, você conseguiu materializar meus pensamentos neste post. Muito obrigada, pois tomar decisões são tão difíceis, mas as vezes muito necessárias para ter qualidade de vida!!

    1. Oi, Juliana! Eu que agradeço pelo seu comentário!
      Eu sou o tipo de pessoa que não consegue decidir nem o que vai comer na praça de alimentação, imagina tomar decisões mais difíceis? Hehe. Mas, tem hora que “tenho que ir”. Não tem jeito!

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